17 de fevereiro de 2017

Tecnologias Ambientais: ferramentas para a valorização de resíduos sólidos urbanos


Em decorrência do número excessivo de aterros, acima de 100.000 e os impactos ambientais identificados a partir destas práticas, durante as últimas três décadas o mercado alemão voltou-se para a busca de soluções para fins de proteção ambiental através da mitigação de impactos e proteção natural pela substituição dos recursos primários pelos secundários. Esta empreitada tomou força no momento em que o valor da energia alcançou níveis elevados, foram identificadas a influência na mudança climática provocada pela emissão de gases de efeito estufa a partir dos aterros, podendo representar entre 8 a 12% das emissões antrópicas, e foram valorizados alguns elementos químicos como metais pesados, fosfato, entre outros. Desta forma, todos esses fatores remontaram na formação de um arcabouço de tecnologias extremamente avançadas, com controles ambientais bastantes conservadores e altos índices de desvio de massa, seja na forma de incineração seja na forma de tratamento mecânico e biológico.

A combinação de todos estes fatores gerou uma onda de âmbito global extremamente contaminante, variando entre países de alta industrialização, como a Alemanha, até países com baixo desenvolvimento como o Haiti que exporta seus recicláveis para o Paquistão. Todos em prol da recuperação dos materiais a partir da mola propulsora da economia verde. O mercado tem motivado estas novas práticas.

Podemos apresentar um rol de argumentos para a valorização dos resíduos, mas o que efetivamente movimentará o sistema é o entendimento de que existe uma cadeia econômica intensa neste segmento de mercado. A sociedade pode amparar as novas práticas, o poder público pode garantir através de política pública a implementação dos novos sistemas, porém a sustentabilidade dos novos processos de tratamento só estará garantida quando da aceitação e confiança do mercado.

Acompanhando a tendência global, no Brasil estamos vivenciando um momento divisor de águas, reconhecimento do mercado, político e da sociedade, tecnologias amadurecidas disponíveis internacionalmente, políticas de proteção e preservação ambiental, geração de empregos verdes fomentando a inclusão social, todos fatores positivos para o amparo da introdução da gestão sustentável de resíduos sólidos.

As demandas por tecnologias surgiram em decorrência das vinculações diferenciadas instituídas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos que além de diferenciar resíduos de rejeitos, também, em seu artigo 9°, define uma hierarquia de procedimentos no intuito de afastar o aterramento das frações in natura e introduzir práticas de valorização.

As tecnologias estudadas neste capítulo ainda não possuem aplicação em escala no mercado brasileiro. Assim, para fins de tropicalização de tecnologias deve-se focar em capacitação e linhas de pesquisa para aplicação e adaptação das tecnologias com base em nossas diversidades climáticas e gravimétricas; e, ainda nossa disponibilidade de peças de manutenção. Isto apenas será possível através da formação de parcerias com entidades governamentais, acadêmicas, de pesquisa, entre outras.

Durante o mapeamento tecnológico abordaremos frentes de valorização de resíduos presentes a nível global que abarcam soluções voltadas tanto para a promoção da reciclagem quanto recuperação energética, quais sejam: processamento de combustível derivado de resíduos (CDR), compostagem e fermentação. Algumas destas frentes foram apresentadas em versões variando das mais simples até as mais complexas em relação ao avanço tecnológico provendo faixas com menores a maiores desvio de massa e complexidade operacional diversificada.

Conceituar uma rota tecnológica demanda o conhecimento do binômio substrato × subproduto. Isto determina a necessidade de mapeamento qualitativo e quantitativo dos resíduos gerados para fins de entendimento de sua potencialidade de valorização, implicando tanto na definição dos sistemas tecnológicos quanto no dimensionamento da planta.

Promover a aplicabilidade tecnológica está diretamente relacionada com estudos de viabilidade operacional, econômica e ambiental. As tecnologias devem ser adaptadas para serem aplicadas ao nosso mercado. Os governos em todas as suas esferas, devem promover linhas de fomento, na forma de financiamentos e subsídios tanto para pesquisa quanto para aplicação em larga escala, ferramentas estas previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, porém ainda não regulamentadas.

Desta forma, a inovação na indústria de resíduos sólidos urbanos poderá ser aplicada diretamente na resolução dos gargalos de infraestrutura e também em aumento de produtividade, onde a produção de novos conhecimentos científicos e tecnológicos, irá acelerar e desburocratizar o relacionamento entre os produtores do conhecimento e as empresas, atendendo prontamente a demanda cada vez mais latente deste mercado que se formou com a edição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010).



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Como citar [ABNT NBR 6023:2002]:

FRICKE, Klaus; PEREIRA, Christiane. Tecnologias Ambientais: ferramentas para a valorização de resíduos sólidos urbanos. In: FRICKE, Klaus; PEREIRA, Christiane; LEITE, Aguinaldo; BAGNATI, Marius. (Coords.). Gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos: transferência de experiência entre a Alemanha e o Brasil. Braunschweig: Technische Universität Braunschweig, 2015. Disponível em: <https://goo.gl/BE246I>. Acesso em: .
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