Projeto i-NoPa

Capacitação e pesquisa fundamental, a fim de gerar metodologia de análise para o desenvolvimento de projeto para uma instalação de Tratamento Mecânico Biológico (TMB) com fermentação integrada na cidade de Jundiaí-SP


A Política Nacional de Resíduos Sólidos desloca o tema resíduo sólido para outro patamar, extrapolando discussões voltadas exclusivamente para formas de disposição final em aterros. O novo arcabouço legal incorpora a consciência das riquezas e potencialidades possíveis no manejo dos resíduos, ao passo que também nos revela os erros e omissões que se acumularam nos últimos trinta anos.

O projeto “Capacitação e pesquisa fundamental, a fim de gerar metodologia de análise para o desenvolvimento de projeto para uma instalação de Tratamento Mecânico Biológico (TMB) com fermentação integrada na cidade de Jundiaí” teve como objetivo abrir uma discussão multidisciplinar integrando vários segmentos do mercado a fim de permitir o delineamento de ferramentas para a implementação de uma gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos.

Durante a execução do projeto foi possível firmar debates que abrangeram desde as características das tecnologias voltadas para o processamento dos resíduos na forma de fermentação, compostagem, reciclagem e recuperação energética até questões relacionadas com planejamento, execução e operação, bem como gestão customizada e sustentável de resíduos e, ainda, aspectos relevantes para implementação dos projetos tais como financiamento e licenciamento, sempre observando as tendências e os desafios de uma gestão inovadora.

O projeto também disponibilizou conhecimento global sobre este novo mercado e também a construção de uma inter-relação com o setor dos resíduos no âmbito Brasil-Alemanha, estabelecendo um intercâmbio com instituições alemãs ícones em práticas que garantem a proteção climática e a preservação dos recursos naturais, oportunizando assim uma troca permanente de experiências, através da educação profissional e tecnológica.

É com imensa alegria que oportunizamos esta publicação que reforçará o modo de discutirmos as melhores práticas na gestão dos resíduos sólidos urbanos, reconhecendo que não foram medidos esforços por parte da Prefeitura de Jundiaí para sua realização, que transpassaram o objetivo preliminar de disponibilização de equipe técnica e infraestrutura, e oportunizaram democratizar as informações para fins de fomentar uma visão holística quanto à gestão diferenciada dos resíduos, provocando uma mudança cultural que protegerá nossos recursos naturais e climáticos, garantindo um futuro melhor para as próximas gerações.

Os rumos que tomamos no presente definem nosso futuro.


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Equipe Técnica

Prefeitura de Jundiaí
Technische Universitaet Braunschweig
Aguinaldo Leite [Coordenador]
Christiane Pereira [Coordenadora]
Aline Cardoso Domingos
Klaus Fricke [Coordenador]
Anderson Luís de Araújo
Anja Lenk
Ary Alexandre Ferrari
Anne Foelster
Camila Barbi
Anton Zeiner
Diana Piffer Gigliotti
Aylin Savasir
Eric Arthur de Azevedo
Christof Heussner
Evandro Mendes
Corinna Hoeger
Gabriel de Carvalho Gimenez
Kai Munnich
Gilberto Valverde Carneiro
Lauro Raphael Accorsi Donadell
Juliana Baldi da Silva
Lennart Peters
Laércio Magno dos Santos
DBFZ
Lucas Aparecido Rodrigues
Katrin Strach
Marcelo Foelkel Patrão
Walter Stinner
Márcio Alexandre Bonomi
GIZ
Maria Aparecida Bueno Fumachi
Jens Giersdorf
Maria Raquel Silva
PUC-Rio
Mariana Merlo
Tacio Mauro Pereira de Campos 
[Coordenador]

Maximiliano Alvares
Regiane Redondo Puga
Denise Mano
Roberta da Silva Leone
Paula Enoy
Rodrigo Batalha
Simone Dealtry
Vinícius Macedo
Tomaz Langenbach

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Introdução


Após a promulgação da Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e dá outras providências, dentre elas a gestão integrada e o gerenciamento de resíduos sólidos, bem como a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, que impõe ao poder público e aos geradores a obrigação da destinação final ambientalmente adequada, os municípios brasileiros e o setor privado tiveram que se adequar à nova gestão de resíduos e às respectivas orientações instituídas pela PNRS. 

A destinação final ambientalmente adequada destaca-se como um dos maiores desafios previstos na lei, uma vez que este conceito impõe a obrigatoriedade na reutilização, reciclagem, compostagem, recuperação e aproveitamento energético dos resíduos sólidos, isto é, a sua valorização através da reinserção na cadeia produtiva por meio de tecnologias apropriadas, dispondo em aterros sanitários somente os rejeitos, ou seja, àquelas frações não mais passíveis de valorização. 

Tais prerrogativas foram definidas no âmbito da lei porque a gestão de resíduos tradicional impacta fortemente o meio ambiente no momento em que 8 a 12% das emissões antrópicas de Gases de Efeito Estufa (GEE) sejam oriundas do aterramento dos resíduos, influenciando assim as mudanças climáticas, mas também explorando desnecessariamente recursos primários.

Figura 1 – Impactos Ambientais
Fonte: Christiane Pereira, 2014.

Figura 2 – Impactos Ambientais
Fonte: Geotech, 2007.

Em consonante com o estabelecido na legislação das diferentes esferas, o Plano de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo, traz metas e ações de redução das frações secas e úmidas no aterramento. Essas metas refletem diretamente no cotidiano industrial, comercial e de serviços, que deverá se adequar também às diretrizes apresentadas no respectivo plano. Neste sentido, são definidas diferentes porcentagens de desvio destes materiais, sendo o seu aumento gradativo, onde para a fração úmida é prevista a redução de 35%, 45% e 55% nos anos de 2019, 2023 e 2025 respectivamente. Já para os resíduos recicláveis secos estas porcentagens são da ordem de 37%, 42% e 50% para o mesmo período.

Com o intuito de enfrentar estes novos desafios, a Prefeitura Municipal de Jundiaí (PMJ) por meio da Secretaria Municipal de Serviços Públicos (SMSP), a fim de cumprir com as premissas legais estabelecidas pela PNRS, elaborou o Plano de Saneamento Básico Setorial para a Limpeza Urbana e o Manejo de Resíduos Sólidos tendo como objetivo prover uma gestão diferenciada aos resíduos sólidos urbanos.

Como ação de curto prazo, temos a implantação de coleta diferenciada da fração úmida e seca em 100% do sistema de coleta, e assim reciclar efetivamente 50% do material seco coletado. Em médio prazo a SMSP define a porcentagem de 60% dos materiais secos coletados reciclados efetivamente, assim como a instalação de uma unidade de tratamento de resíduos através da biodigestão e seu aproveitamento energético. Já como ação a longo prazo, a secretaria estabelece que em quinze anos esta porcentagem deverá ser de 80% de reciclagem dos materiais secos, e em vinte anos, 90%.

Para garantir o bom planejamento das ações que permitirão alcançar as metas firmadas, a SMSP foi buscar conhecimento e tecnologia na Alemanha, tanto para o fomento acadêmico no que tange a inovação tecnológica como para garantir bons resultados a partir da troca de know how acerca da gestão e dos desafios operacionais e de mercado a serem enfrentados quando da implementação de planta de tratamento mecânico-biológico no município. 

O projeto proposto por Jundiaí em cooperação com TUBS, PUC-RIO, GIZ CREED e DBFZ visa o desenvolvimento de uma gestão ecoeficiente dos resíduos sólidos urbanos, com o propósito de gerar os seguintes resultados:
  • Treinamento da equipe técnica da Prefeitura;
  • Análise qualitativa e quantitativa dos grandes geradores;
  • Planejamento e implantação de um laboratório científico para análises dos substratos e subprodutos;
  • Caracterização gravimétrica, granulométrica e analítica dos resíduos domiciliares;
  • Definição de rotas tecnológicas e promoção de plantas-piloto a partir de técnicas de secagem e compostagem;
  • Mapeamento do mercado de consumo de subprodutos;
  • Promoção de eventos para disseminar as informações produzidas e intensificar a cooperação internacional.


O projeto desenvolvido foi regido pelos aspectos norteadores:
  • Praticidade;
  • Sustentabilidade a longo prazo e promoção de inovações;
  • Transferabilidade;
  • Fomento às técnicas de valorização dos resíduos;
  • Disseminação de conhecimento através dos cursos de capacitação e publicações técnicas; e,
  • Intensificação da cooperação internacional, sendo que sua implementação pretendeu gerar os seguintes impactos:
¬   Formação de política pública;
¬   Acessibilidade às prerrogativas legais;
¬   Desenvolvimento de banco de dados consistente;
¬   Customização de soluções;
¬   Sensibilização da comunidade e do setor privado;
¬   Interação entre os atores;
¬   Promoção da cooperação internacional;
¬   Democratização dos programas de capacitação; e,
¬   Formação de massa crítica.

Figura 3 – Evento realizado: 1º Congresso 
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Figura 4 – Evento realizado: 2º Congresso  
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Figura 5 – Evento realizado: Capacitação Técnica 
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.


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Linha do Tempo





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Caracterização do Município


Figura 6 – Caracterização geográfica de Jundiaí 

Fonte: Prefeitura de Jundiaí, 2015.

Localizada a 60 km da cidade de São Paulo, Jundiaí tem 431.969 km² e 397.965 habitantes (IBGE, 2014), tendo sido classificada em primeiro lugar, pela Revista Exame e pela ONU, como a melhor cidade para se viver, segundo a qualidade de vida e qualidade dos serviços públicos prestados.
  • Abastecimento de água: 100% zona urbana;
  • Tratamento de esgoto: 100% na zona urbana e na zona rural, tratamento de 30.123.324,00 m³ por ano;
  • Resíduos: 95% de coleta dos resíduos;
  • Orçamento anual total para 2014: R$ 1,65 bilhões;
  • Orçamento anual da Secretaria de Serviços Públicos: aproximadamente R$ 140 milhões, cerca de 8,5% do orçamento total. A Secretaria conta com 319 funcionários, sendo: 251 com ensino médio, 56 com ensino superior e 12 pós-graduados. Os serviços públicos terceirizados são prestados por 12 empresas;
  • Em 2014, foram geradas 140.000 toneladas de resíduos sólidos domiciliares, ou seja, 384 t por dia, ou 0,96 kg/hab/d.

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Capacitação Técnica


As disposições previstas na PNRS dialogam com a modernidade, preservando recursos e protegendo o clima, porém explicita o desafio de prover sistemas sustentáveis para a gestão de resíduos que esbarra na carência de especialização no mercado, tanto para o desenvolvimento de conceito tecnológico quanto para a avaliação e operação de tecnologias, resultando não somente em entrave técnico na busca por melhores soluções, mas também em insegurança para a tomada de decisão por parte dos agentes públicos e privados.

Corroborando o entendimento de que apenas através do conhecimento poderemos avançar na valorização de resíduos no Brasil, durante o projeto entraram em pauta discussões que abrangeram diversas linhas temáticas tais como levantamento do panorama da gestão de resíduos no Brasil e na Alemanha, tecnologias ambientais, linhas de financiamento, particularidades sobre o licenciamento, mercado de subprodutos, desafios de gestão e, sobretudo, formação de políticas públicas.

Cientes das fragilidades inerentes à formação de um novo mercado, os esforços foram não apenas concentrados na capacitação da equipe do projeto, mas principalmente visaram gerar uma rede inteligente a partir da promoção de uma série de eventos que permitiram democratizar os conhecimentos adquiridos.  




Eventos e qualificação profissional
Local
Data
Participantes
1
1º Congresso Técnico
Brasil–Alemanha
Parque da Uva – PMJ
Dezembro
2013
780
2
Workshop PUC-Rio
PUC-Rio
Março
2014
18
3
Capacitação Planejamento
Sala de situação – PMJ
Março
2014
30
4
Workshop CIESP
CIESP – Jundiaí
Abril
2014
145
5
2º Congresso Técnico
Brasil–Alemanha
Florianópolis
Maio
2014
330
6
7º Encontro Técnico
Alto Nível Compostagem
CETESB-SP –
São Paulo
Agosto
2014
85
7
Capacitação para caracterização
para grandes geradores
Sala de Reuniões SMSP – PMJ
Junho
2014
30
8
Feira RWM
São Paulo
Setembro
2014
30
9
1º Diálogo conjuntivo
Cidades da América Latina
Cuenca – Equador
Novembro
2014
40
10 
Estudo de Gravimetria de
Resíduos Sólidos Urbanos
Geresol – PMJ
Abril e Outubro
2014
30
11 
Visita Cooperlínia Ambiental do Brasil
Paulínia
Novembro
2014
10
12 
Curso de Nivelamento Técnico em
Gestão Sustentável de RSU
DAE – Jundiaí
Novembro
2014
230
13 
Visita Técnica LOGA
São Paulo
Novembro
2014
15
14 
Capacitação especializada em intervenções
analíticas para caracterização de RSU
Hotel Serra de Jundiaí
Janeiro
2015
30
15 
Capacitação de Compostagem e Secagem de Resíduos Sólidos Urbanos e Resíduos Orgânicos Separados
com o sistema ON FLOOR
AERATION WITH GORE COVER
Auditório do oitavo andar – PMJ
Março
2015
30
16 
Workshop de encerramento do
Projeto i-NoPa
Hotel Serra de Jundiaí
Março
2015
60


Total de Participantes
1893

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Cooperação Técnica


O binômio firmado pela insuficiência técnica e demandas de negócio do mercado brasileiro de resíduos sólidos urbanos corroborou para uma intervenção entrelaçada de diversas instituições que dominam notório conhecimento da Alemanha tais como TUBS, DBFZ, DAAD, GIZ e BMBF.

O conceito de cooperação técnica adotado durante o projeto consolidou o compartilhamento de esforços e benefícios, à luz do impacto e do alcance sobre o mercado seja em âmbito privado seja em âmbito acadêmico, aprimorando mecanismos de negociação, avaliação e gestão dos projetos, a fim de enquadrá-los às prioridades nacionais, garantindo necessariamente a proteção climática e preservação dos recursos naturais, e ainda fortalecendo as instituições transpassando governos.

Como era esperado, o projeto repercutiu além das fronteiras de Jundiaí, despertando interesse de entidades sensíveis ao tema tais como as Prefeituras de Florianópolis, Votuporanga, Paulista, Cuenca e Lueneburg, e ainda instituições renomadas como PUC-Rio, CIESP, KFW, FINEP e SENAC.

Estas instituições, cada uma segundo sua especialidade, atuaram na forma de cooperação técnica constituindo importante instrumento de desenvolvimento, auxiliando o Brasil a promover mudanças estruturais nos seus sistemas produtivos voltados para uma gestão sustentável de resíduos sólidos, como forma de superar restrições que tolhem o natural crescimento deste novo mercado.

Os programas de cooperação técnica implementados permitiram transferir conhecimentos, experiências de sucesso e sofisticados equipamentos e programas de gestão, contribuindo assim para capacitar recursos humanos e fortalecer instituições, possibilitando um salto qualitativo de caráter duradouro.
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Caracterização dos Resíduos


A caracterização dos resíduos sólidos urbanos é uma ferramenta importante para o desenvolvimento dos conceitos tecnológicos das plantas de tratamento, permitindo selecionar as melhores tecnologias e adequá-las ao fluxo de material existente a partir da análise gravimétrica, granulométrica e analítica, oportunizando dimensionar os equipamentos, e também escolher as melhores técnicas segundo seu potencial de empregabilidade no fluxo operacional e receptividade do mercado consumidor de recursos secundários.

Durante as análises práticas foram realizados estudos de caracterização de resíduos com base em metodologia aplicada na Alemanha para expressar o percentual em peso de material amostrado em relação à massa total dos resíduos domiciliares.

Levando em conta que o serviço de coleta de resíduos sólidos domiciliares se dá através do recolhimento dos dispostos pelos munícipes nas vias públicas optou-se por investigar um percentual de 2% do total recolhido nos caminhões, valor este quatro vezes superior à quantidade adotada na metodologia da Universidade de Braunschweig e do mercado brasileiro.

Figura 7 – Fluxograma da metodologia utilizada
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

O estudo foi dividido em duas etapas denominadas por Campanha 1, realizada no mês de abril de 2014, e Campanha 2, realizada nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2014.

Durante a escolha das rotas foi necessário compreender o perfil das diferentes regiões sob domínio municipal, pois de acordo com a Campanha 1, na qual a escolha das rotas estudadas foi baseada na diferença de poder aquisitivo, os resultados demonstraram que o fator socioeconômico não representou diferenças significativas com relação à composição dos resíduos gerados.

Durante a Campanha 2, as rotas foram escolhidas de acordo com as características individuais de cada região, tais como nível de desenvolvimento urbano, atividades de ocupação comercial, industrial ou residencial, e zoneamentos urbanos e rurais.

Figura 8 – Quarteamento dos resíduos domiciliares coletados para amostragem
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Com relação à quantidade recolhida de cada rota para amostragem, foi adotado uma média 180 kg (2% da massa total coletada pelo caminhão).

O processo de quarteamento foi realizado segundo a norma ABNT NBR 10007:2004. Para a Campanha 2 os resíduos sofreram ações para o rompimento dos sacos a fim de obter maior homogeneidade e desta forma maior representatividade da amostra. Este procedimento envolveu o partilhamento de uma pilha de resíduos em quatro partes até alcançar uma massa total de 180 – 200 kg.

A atividade de peneiramento permite a representação granulométrica de cada fração presente na massa coletada. Os materiais coletados na etapa de quarteamento foram pesados antes e após o peneiramento para estabelecer a quantidade de materiais por fração granulométrica.

Durante a análise gravimétrica utilizou-se a triagem manual por propriedades físicas. Deste modo, foram obtidas para cada classe diversas frações, por exemplo: papel, plástico, metais ferrosos, material orgânico etc.

Figura 9 – Fluxograma do Procedimento da Granulometria e Gravimetria
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Na primeira campanha, os materiais foram divididos em 26 frações, na segunda campanha os materiais foram classificados e definidos em 35 categorias.

Nesta segunda etapa, deu-se a mudança conceitual através da introdução do item “higiênicos”, onde neste item foram acumulados fraldas com absorventes e papéis higiênicos, em decorrência dos diferentes potenciais caloríficos desses materiais.

Realizou-se análises relevantes para utilização de combustível derivado de resíduos (CDR) e recicláveis com as peneiras maiores (> 80mm), enquanto para as frações menores (< 80mm) foram realizadas análises relacionadas ao seu emprego na forma de recicláveis, biogás, composto e biomassa.

Para a quantidade de sólidos totais, foram colocadas amostras para secagem em estufa, uma vez que o teor de umidade tem influência direta sobre a velocidade de decomposição da matéria orgânica no processo de compostagem, na produção de biogás e no poder calorífico.

Já o teor de sólidos voláteis corresponde à fração composta de matéria orgânica que é gaseificada após ser colocada em forno mufla durante 24 horas até atingir peso constante sob uma temperatura de 550 °C. Com o teor de sólidos voláteis, obtêm-se a porcentagem de matéria orgânica, sendo possível estimar sua decomposição através do tratamento biológico, bem como a presença de frações minerais na massa mista.

Figura 10 – Segregação dos materiais de uma classe na mesa de triagem
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Durante os estudos realizados em Jundiaí a gravimetria encontrada apontou variação insignificante em decorrência da diferença econômica de classes, diferentemente dos estudos relacionados a este tema em outras regiões e na literatura.

Figura 11 – Gravimetria por bairro
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

No que se refere a influência dos bairros segundo prevalência de classe e atividades econômicas, nota-se que as diferenças setoriais e estruturais dos bairros não foram significativas no que tange a composição dos resíduos mistos. Observa-se que somente para o bairro Malota houve uma alta composição dos resíduos biodegradáveis em função da enorme quantidade de agregados finos orgânicos encontrados, sendo que neste bairro predominam a classe econômica de alta renda.

Estes valores se tornam relevantes para entender que, apesar de haver diferenças visíveis, no tocante a parte estrutural de um bairro para outro, o município não apresenta grandes diferenças socioeconômicas que interfiram na composição dos resíduos.

Resumindo a triagem das classes, o Gráfico da Figura 12 mostra a composição gravimétrica dos resíduos domiciliares do município.

Figura 12 – Composição dos resíduos no município de Jundiaí-SP 

Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

No que concerne ao aproveitamento das frações orgânicas temos o comprometimento de sua qualidade devido a sua característica mista, tanto em seu emprego na forma de reciclagem de materiais quanto a geração de composto, podendo reduzir seu potencial de escoamento para o mercado consumidor. Apesar desse aspecto duvidoso pode-se antecipar que estas frações finas possuem alto potencial para recuperação energética por geração de biogás, sendo que também poderão ser submetidas à secagem biológica para fins de geração de CDR. Os resultados parciais dos ensaios analíticos são apresentados nas Figuras 13 e 14:

Figura 13 – Média do teor de Sólidos Totais de 15 amostras
oriundas dos resíduos domiciliares de diferentes bairros de Jundiaí  
Classe
< 20 mm
20-40 mm
40-60 mm
60-80 mm
80 mm
Sólidos Totais
[% de peso]
49%
41%
44%
60%
65%
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Figura 14 – Porcentagem de orgânicos nas frações finas
Frações < 20 mm
58% de presença de orgânicos
Frações entre 20 – 40 mm
75% de presença de orgânicos
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

No que tange a potencialidade das frações orgânicas temos que 47% da massa poderá ser submetida ao tratamento biológico tanto aeróbio quanto anaeróbio.

Apesar dos resultados apontarem no sentido da valorização através de intervenção biológica, deverão ainda ser analisados aspectos tais como receptividade da cadeia econômica, tanto do biogás quanto da biomassa e do composto de origem mista.

Ainda, considerando a elevada presença de recicláveis na massa estudada temos evidente potencial de reciclagem nos resíduos de Jundiaí, podendo vir a representar 30% do aproveitamento na forma de reciclagem de materiais da massa total. Entretanto, estas frações, quando sofrem contaminação por orgânicos, encontram dificuldade para encaminhamento na cadeia econômica, então têm efetivamente um aproveitamento entre 5-10% do total na forma de reciclagem de materiais.

Como alternativa para as frações contaminadas há opção de introdução de secagem biológica, desde que atinjam critérios técnicos dos consumidores de CDR, tais como teor de umidade < 20% e poder calorífico inferior de 15.000 kJ/kg. Estas frações secas poderão ser enquadradas como CDR, neste caso seu aproveitamento representaria 15% da massa total. Com base nestas taxas de desvio temos que entre 8% - 40% das frações restantes seriam denominadas rejeitos e encaminhadas para a disposição final em aterros.

Figura 15 – Prospecção inicial, menos conservadora, de técnicas de tratamento
segundo a caracterização dos resíduos  
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

De forma geral, os dados disponíveis no mercado relativos à caracterização dos resíduos são frágeis e defasados. Frágeis por muitas vezes resultarem de campanhas incipientes que não demonstram a realidade da geração por estar amparadas em intervenções extremamente pontuais e podemos dizer econômicas, no sentido em que se realizam campanhas aquém das necessárias para garantir representatividade aos dados coletados. Ainda, a fragilidade se reflete durante a realização da campanha onde há pouca experiência para identificar o tipo de resíduo, desta forma por muitas vezes confundindo suas condições qualitativas e nomeando grupos de compilação erroneamente, além de negligenciar as influências granulométricas e analíticas na elaboração de conceitos tecnológicos.

Faz-se necessário esclarecer que a metodologia brasileira de caracterização dos resíduos não leva em consideração a influência granulométrica das massas e também não avalia analiticamente os resíduos, dados estes imprescindíveis para o planejamento de rota tecnológica, no momento em que o substrato interferirá drasticamente no desempenho operacional da planta de tratamento.

A definição de rota tecnológica demanda um processamento eficaz do substrato e a geração de subprodutos que sejam valorizados pelo mercado. No caso em pauta, para a cidade de Jundiaí, optamos pelo tratamento mecânico-biológico pelos motivos que extrapolam a constituição dos resíduos sólidos urbanos, mas abarcam ainda a preservação dos recursos naturais e a proteção do clima.

As ações recomendáveis para fins de garantir um mapeamento tecnológico que atenda às necessidades do mercado brasileiro vão além das questões de ordem tecnológica evidenciando a necessidade primordial de capacitação das equipes e ainda o desenvolvimento de um banco de dados de excelência.

Desta forma, garantir dados atualizados servirá de ferramenta fiel para o planejamento, não distorcendo valores e principalmente, não onerando desnecessariamente o erário, promovendo assim o compromisso das melhores práticas. 


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Caracterização de Grandes Geradores


No município de Jundiaí, de acordo com a Lei nº 2.140/1975 que trata sobre os serviços de limpeza pública, em seu artigo 3º definiu a competência no manejo de resíduos do município para aqueles: “originários de restaurantes, bares, hotéis, quartéis, mercados, matadouros, abatedouros, cemitérios, recintos de exposições, edifícios públicos em geral e, até 400 (quatrocentos) litros, os de estabelecimentos comerciais e industriais”.

O diagnóstico municipal acerca da gestão destes resíduos dentro dos empreendimentos considerados grandes geradores se traduz numa ferramenta importante, tanto para fundamentar o prognóstico desta planta quanto para elucidar questões como capacidade de processamento e conhecimento da tipologia de material para tratamento, como para definição da rota tecnológica adequada, além do estabelecimento da condição de diálogo entre setor público e privado para a consolidação de políticas públicas que tratem diretamente destes geradores e a análise do emprego desta fração no mercado consumidor de recursos secundários.

Acompanhando a tendência no Brasil onde as administrações públicas não interagem com o setor privado no sentido de dominar conhecimento sobre as práticas das indústrias, comércios e serviços, quando do início do projeto, nos deparamos com a lacuna da ausência de dados sobre a gestão de resíduos oriunda do setor privado.

Desta forma, a fim de realizar o diagnóstico ambiental no município de Jundiaí foi necessário elaborar um questionário visando captar informações pertinentes ao atendimento das premissas propostas pela PNRS. Este questionário foi intitulado como “Análise Mercadológica de Grandes Geradores”, documento com abordagem ampla e complexa que permitiu compreender as demandas do setor com vistas à sua integração futura em projeto de gestão sustentável de resíduos sólidos.

O principal foco durante a elaboração do conteúdo do questionário era a caracterização dos grandes geradores do município de Jundiaí, e para tal foi imprescindível dividir a equipe em três setores: técnico, operacional e de gestão, visando garantir multidisciplinaridade durante o desenvolvimento do projeto.

O questionário utilizado para o levantamento dos dados foi dividido em quatro etapas abordando 58 questões em sua maioria de múltipla escolha visando captar informações pertinentes ao atendimento das prerrogativas previstas na PNRS, tais como:
  • o levantamento de dados relativo à logística reversa;
  • o levantamento qualitativo e quantitativo, inclusive analítico físico-químico, dos resíduos industriais, comerciais, residenciais e verdes;
  • as formas de separação, coleta, destinação e tratamento;
  • o domínio dos aspectos legais daquele responsável pela gestão de resíduos no empreendimento;
  • os tipos de fonte de energia utilizada em suas atividades;
  • o nível de comprometimento da equipe responsável sob a ótica ambiental e social; e, ainda,
  • uma discriminação pormenorizada, em formato de tabelas, dos resíduos gerados tais como: recicláveis, orgânicos, minerais, perigosos, sujeitos às premissas legais da logística reversa e outros resíduos gerados pelos empreendimentos.

Outro ponto importante definido no transcorrer dos trabalhos foi a ampliação do campo de pesquisa passando a integrar ainda no universo amostrado os setores de serviços, uma vez que o foco inicial era avaliar somente comércios e indústrias. Portanto, passaram a ser considerados como massa investigada àqueles estabelecimentos que também se enquadram na definição de grandes geradores tais como escolas, restaurantes, hotéis, terminais rodoviários, etc.

O período de realização da campanha de análises dos Grandes Geradores ocorreu durante cinco meses, de maio a setembro de 2014. Neste processo, 23 pessoas estiveram envolvidas e de 22.726 instituições existentes no município segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (2013), 232 foram contatadas e 224 efetivadas, caracterizando assim 1% do total do universo de amostragem.

Através da interpretação das respostas desse levantamento estatístico, desenvolveu-se um relatório com o intuito de transpor o que foi compreendido durante a aplicação dos questionários e, ter um diagnóstico representando as necessidades, os conhecimentos, e as dificuldades vivenciadas pelos entrevistados durante o processo de gestão dos resíduos.

Figura 16 – Questão 1: Você responderá o questionário? 
Qual sua motivação em responder a este questionário?
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.


Em sua maioria, 91% dos consultados responderam que entendem a importância de disseminar as informações sobre a gestão de resíduos na empresa, mostrando grande interesse em colaborar com o projeto.

Figura 17 – Questão 3: Sua empresa atua em qual setor? 
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Os setores da economia abordados na pesquisa foram bastante estratificados representando com fidelidade a economia local. Inicialmente as grandes indústrias seriam o alvo de aplicação dos questionários, mas a necessidade de gerar números mais significativos foi identificada, partindo então para a área de serviços e comércios como grande parte dos entrevistados.

Figura 18 – Questão 4: Quantas pessoas trabalham na empresa? 
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.


A quantidade de funcionários oscila de acordo com o porte e segmento das empresas, sendo que 25% representam a maior parte das entrevistadas onde o número de funcionários varia entre 51 e 100.

Figura 19 – Questão 5: Tem refeitório?
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.


De 85% das empresas que possuem refeitório próprio para os funcionários, em 40% o alimento é preparado por elas mesmas, o que indica uma maior geração de resíduos orgânicos.

Figura 20 – Questão 6: A empresa tem certificação de qualidade? 

Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Comprovando seu compromisso ambiental, existe programa de certificação de qualidade implementado em 44% das empresas.

Figura 21 – Questão 12: Você conhece os termos da
Política Nacional de Resíduos Sólidos?
 Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Em 55% dos casos, os entrevistados disseram ter conhecimento sobre os termos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, fato que corrobora com os resultados das duas questões anteriores, onde pelo menos 60% indicavam que têm conhecimento sobre a logística reversa, sendo que está incluída nos termos da PNRS.

Entretanto, observando que 55% dos entrevistados responderam que conhecem com alguma propriedade a existência da PNRS, podemos concluir que a Política Nacional de Resíduos Sólidos já pode ser considerada um instrumento balizador da gestão de resíduos nos setores empresariais entrevistados. Quanto ao segmento que declarou ter conhecimento ou certo conhecimento, há possibilidade ainda de filtrar o nível de conhecimento para fins de incentivo aos programas de nivelamento. Já para o setor que declara desconhecimento, pode ser interessante a promoção de curso de introdução à PNRS.

Figura 22 – Questão 21: Dê uma nota para o serviço referente à gestão
dos resíduos sólidos realizado pela Prefeitura na coleta tradicional:
 Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

As notas entre 7 e 10 referentes à coleta tradicional representam 65% das empresas, indicando grande satisfação pelo serviço prestado pela Prefeitura, enquanto 24% não souberam avaliar.

Figura 23 – Questão 24: A empresa possui um 
departamento para gestão de resíduos?

Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Sobre a gestão de resíduos na empresa, 31% tem um departamento exclusivo para seu acompanhamento. Em 50% delas não existe esse departamento, muitas vezes os responsáveis pela gestão de resíduos eram gerentes, supervisores, técnicos em segurança do trabalho, responsáveis pela limpeza, etc.

Figura 24 – Questão 25: Há plano de gestão de resíduos na empresa? 
 Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Pode-se observar que 22% das empresas elaboraram seu plano de gerenciamento de resíduos, enquanto que 73% ainda não possuem seus respectivos planos, denotando a falta de informação acerca dos termos da PNRS.

Figura 25 – Questão 29: A coleta seletiva está estabelecida dentro da empresa?
 Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Constatou-se que 91% já implementaram a prática da coleta seletiva interna, 23% delas separam apenas entre orgânico e reciclável misto, 83% têm uma segregação mais detalhada de seus resíduos. Foi possível detectar no processo de tabulação que nem todas as empresas utilizam os cestos coloridos para a separação, mas em algum processo das atividades da empresa acabam por separar certos tipos de materiais para sua correta destinação ou aproveitamento, caracterizando então que existe a coleta seletiva implantada.

Figura 26 – Questão 31: Qual a porcentagem de reciclagem?
 Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Com a coleta seletiva implantada, em 42% foram alcançados índices significativos de reciclagem superiores a 50%.

Figura 27 – Questão 37: Há interesse na formação de parceria com a Prefeitura para a promoção de cursos/palestras de capacitação sobre gestão ecoeficiente de resíduos?
 Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

Outro ponto importante abordado no questionário, foi o custo envolvido na destinação dos resíduos, sejam classe I ou classe II – A e B, e se também há receita advinda da venda dos resíduos, como observado em muitos casos da fração seca reciclável. Com base nos dados obtidos através dos questionários foi possível selecionar o custo e a receita média de três empreendimentos entrevistados, observamos que os recursos empregados em cada empresa são divergentes, isto pode ser explicado pelo ramo de atividade desempenhada por cada uma.

Quanto aos prestadores de serviços, observamos uma gama diferenciada de empresas que realizam a coleta e disposição final de resíduos, seja classe I ou II. Nota-se também que este mercado voltado ao gerenciamento de resíduos de empreendimentos considerados grandes geradores está em expansão. Porém deve-se observar se esta gestão vai de encontro com o preconizado pela PNRS, se efetivamente o serviço proposto de valorização é realizado.

No tocante aos grandes geradores, temos que a aplicação dos questionários nos permitiu concluir que apesar de todos os desafios a serem enfrentados, os entendimentos dos envolvidos são congruentes no que diz respeito à priorização da valorização dos resíduos. Desta forma, a lei federal apresenta-se como um forte instrumento de apoio e fomento das novas práticas.

Os grandes geradores, principalmente aqueles das atividades industriais, estão empenhados em atender a demanda regulamentada a fim de melhorar o sistema de gestão interna e garantir a logística reversa. Já o setor de comércio e serviços, não demonstrou tanto domínio sobre o assunto, uma vez que sua gestão de resíduos é simples e não exige mais do que uma visão geral sobre as ações, sendo estas muitas vezes ineficientes.

Através dos questionários aplicados foi possível caracterizar o cenário onde o município de Jundiaí se enquadra, desde a geração de resíduos sólidos urbanos, mas também no que tange aos grandes geradores a compreensão sobre a destinação de diversos materiais e as dificuldades da gestão dos sistemas, tanto público quanto privado.

No que diz respeito ao potencial de valorização dos resíduos privados, temos que a análise dos dados demonstrou evidente geração de resíduos recicláveis e orgânicos, estes últimos de fácil acesso sejam por sua origem durante a produção sejam pela presença intensiva de refeitórios, garantindo assim uma massa orgânica livre de contaminantes onde o tratamento será de fácil operacionalização e seus subprodutos de alta qualidade, tanto na condição de composto quanto de sua recuperação energética. No âmbito dos recicláveis, apesar de segregados, há um descontrole quanto a sua destinação quando esta é realizada por terceiros, não havendo assim garantias sobre sua adequada gestão.

Com base nos aspectos de geração e gestão levantados com o projeto, temos como oportuna a implementação de uma planta de tratamento mecânico-biológico na região, onde os resíduos potencialmente valorizáveis serão desviados dos aterros, gerando não apenas recursos secundários mas também garantindo melhores condições ambientais durante o aterramento dos rejeitos, a região estará gerando emprego e renda; e, principalmente os altos custos de destinação serão otimizados a partir da introdução de práticas comprometidas com a qualidade, afastando o desperdício local e promovendo segurança à comunidade local, aos acionistas e aos habitantes de outros municípios que estão sujeitos às consequências oriundas da exportação dos resíduos de Jundiaí, isto se deve ao fato de NÃO haver, atualmente, espaço disponível para a destinação de resíduos no Município, desta forma o ônus da gestão tradicional acaba sendo transferido para outras comunidades.


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CReED do Brasil

CReED é uma ONG que surgiu em 2009 na cidade de Pohlsche-Heide composta de 70 membros, com o propósito de ser um centro internacional para a investigação e desenvolvimento e ainda, fomentar a formação básica e avançada em matéria de resíduos e a gestão dos recursos naturais com um alcance internacional. Ao mesmo tempo, o centro funciona como um site de demonstração de tecnologia ambiental da gestão de resíduos e recursos secundários.

O CReED do Brasil, fundado em 2015, tem como objetivo transpassar fronteiras e introduzir na América Latina uma perspectiva holística da gestão sustentável dos RSU, garantindo uma intervenção multidisciplinar e transterritorial, unindo o que há de mais desenvolvido na Europa com as novas exigências da América Latina.

Assim, o CReED do Brasil será um espaço físico dedicado ao desenvolvimento de fontes alternativas de energia e recuperação de materiais, formado por um parque tecnológico de escala piloto, laboratório especializado, auditório para capacitação e biblioteca verde, tendo como foco a melhoria da realidade social através de uma vitrine de exposições e diálogos entre os consumidores, pesquisadores, empresários, líderes de opinião e a todos os cidadãos em geral, contribuindo para a construção de ferramentas sustentáveis para o benefício de toda a sociedade.

Figura 28 – Área proposta para a implementação do CReED, no GERESOL
 Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.



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Laboratório Especializado


Durante o projeto foi instaurado 210 m² de área de laboratório voltado para a execução de análises físicas, químicas e biológicas, a fim de avaliar o potencial dos resíduos para a reciclagem, a compostagem, a biodigestão, estabilização biológica e CDR. Este laboratório foi equipado com equipamentos de ponta, tornando-se uma referência para o mercado brasileiro quando da busca por intervenções analíticas que demandam expertise e customização.

Figura 29 – Laboratório especializado em RSU
 Fonte: Prefeitura de Jundiaí, 2015.

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Projetos-Piloto


Considerando a necessidade de promover a capacitação voltada para aplicação prática tecnológica, durante o projeto foram introduzidas duas tecnologias aeróbias que se destinam tanto à compostagem quanto à secagem. Ambas serão pesquisadas no âmbito básico e aplicado, a partir de substratos diversos, com o intuito de adequar as tecnologias às condições brasileiras. As tecnologias são modulares atendendo, portanto, às necessidades de cidades pequenas e médias, bem como o segmento privado.

Figuras 30 – Tecnologias aeróbias
Fonte: UTV AG, 2014.

Figuras 31 – Tecnologias aeróbias 
Fonte: GFA, 2014.

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Campus de Ecoeficiência em Resíduos


O CER – Campus de Ecoeficiência em Resíduos – será um espaço físico de caráter multidisciplinar que incorpora ambientes diversos tais como auditório, escritórios, sala de educação ambiental, laboratório, centro para treinamento e pesquisa, e pilotos tecnológicos para garantir a maior taxa de desvio de aterros, bem como a incorporação de subprodutos na cadeia econômica, por meio das seguintes tecnologias: triagem de recicláveis, fermentação, compostagem, secagem para geração de biomassa e agregados da construção civil. A energia renovável que será produzida pela planta de tratamento, através do beneficiamento do biogás, a princípio será usada para consumo próprio podendo ser ampliada conforme a demanda de mercado.

 Em planejamento tem-se uma planta de tratamento mecânico e biológico com capacidade para atender a geração doméstica municipal, com capacidade de partida na ordem de 200.000 toneladas por ano, considerando um lapso de geração de dez anos, ofertando uma opção de destinação adequada tanto para o poder público quanto para os entes privados. Tem-se como área proposta para a implementação do CER, no GERESOL, que possui área de 450.000 m².

Durante o desenvolvimento da rota tecnológica é necessário assumir como pressupostos:
  • flexibilidade, adaptabilidade e funcionalidade no que diz respeito as mudanças da quantidade e qualidade dos resíduos, bem como a evolução do mercado para as matérias-primas secundárias geradas;
  • funcionalidade, disponibilidade e acessibilidade;
  • fornecimento de matérias-primas secundárias;
  • benefícios ambientais, especialmente no que diz respeito ao clima, águas subterrâneas e do uso do solo (volume de aterro);
  • custos de investimento e operacionais.


Figura 32 – Rota Tecnológica – Tratamento Mecânico e Biológico 
Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

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Externalidades

  • Multiplicação dos resultados através da implementação do primeiro centro de treinamento e de pesquisas em gestão dos resíduos sólidos urbanos;
  • Desenvolvimento de mercado para recursos secundários;
  • Consolidação de parcerias estrangeiras;
  • Promoção da educação ambiental;
  • Proteção dos recursos primários e do clima;
  • Desenvolvimento do parque industrial brasileiro para fornecimento de tecnologias para valorização dos resíduos;
  • Capacitação de profissionais técnicos, graduados e pós-graduados;
  • Democratização no acesso à planta e suas informações;
  • Consolidação do banco de dados. 


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Conclusão


A Política Nacional dos Resíduos sólidos é um instrumento legal extremamente avançado que tem sido amplamente discutido pela sociedade com grande avanço, estabelecendo princípios, estratégias, instrumentos e objetivos que criam obrigações e deveres para todas as entidades federais e para o setor privado, assim como programas de investimento por parte do governo federal para apoiar os municípios e as empresas, promovendo desta forma a enorme transformação que deverá ocorrer nesse setor.

A aplicação das medidas previstas na PNRS incorpora uma nova sistemática à gestão de resíduos no país, principalmente pela introdução de tecnologias para valorização dos resíduos, impondo uma série de novas atividades que devem ser implementadas a curto e médio prazo, para adequar as novas práticas às determinações previstas em Lei.

Uma vez que a Alemanha é pioneira na gestão de resíduos há três décadas e as universidades envolvidas são referência mundial devido a seu corpo de especialistas altamente competente, a parceria com a Universidade Técnica de Braunschweig e a PUC-Rio foi de extrema importância para aprimorar o conhecimento do corpo técnico da Secretaria de Serviços Públicos do Município de Jundiaí bem como das entidades acadêmicas envolvidas no Projeto i-NoPa.

No tocante aos grandes geradores, temos que a aplicação dos questionários nos permitiu concluir que apesar de todos os desafios a serem enfrentados, os entendimentos dos envolvidos são congruentes no que diz respeito à priorização da valorização dos resíduos. Desta forma, a lei federal apresenta-se como um forte instrumento de apoio e fomento das novas práticas. Indústrias estão empenhadas em atender a demanda regulamentada a fim de melhorar o sistema de gestão interna e garantir a logística reversa. O setor de comércio e serviços não demonstrou tanto domínio sobre o assunto, uma vez que sua gestão de resíduos é simples e não exige mais do que uma visão geral sobre as ações, sendo estas muitas vezes ineficientes.

Quanto à caracterização dos resíduos temos que há alto potencial de aproveitamento devido à parcela significativa das frações valorizáveis tanto orgânicas quanto recicláveis. A cidade tem uma geração bastante homogênea de seus resíduos não sendo identificadas variações significativas segundo classe social. Este resultado está diretamente relacionado com a condição econômica da população predominantemente de classe média, do baixo índice de desemprego e do incremento no padrão de consumo oriundo do desenvolvimento econômico dos últimos anos.

As condições identificadas da região no que refere ao escoamento de subprodutos apontam para o estabelecimento de planta mecânico-biológica como foco em recuperação energética, aproveitamento de recicláveis e produção de CDR tanto classe 1 quanto 2. A compostagem é indicada para àquelas frações orgânicas coletadas seletivamente principalmente através de convênios com o setor privado que geram resíduos alimentícios em maior quantidade.

A partir de requisito legal que estabelece a valorização dos resíduos, bem como considerações que concernem à proteção dos recursos naturais e do clima, propomos a implementação de um parque tecnológico denominado CER – Campus de Ecoeficiência em Resíduos, que não visa somente promover atividades produtivas, mas principalmente assegurando a essas atividades componentes educacionais, possibilitando assim a multiplicação de instrumentos voltados para a cidadania e o desenvolvimento sustentável.

O projeto permitiu ainda que a equipe acumule conhecimento diferenciado e pioneiro, haja vista que a Política Nacional de Resíduos Sólidos é recente e as primeiras ações no município de Jundiaí passaram a ser tomadas há menos de dois anos. Através desta experiência foi possível aos envolvidos compreender a problemática da geração de resíduos sólidos da cidade, os instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprender as formas de geração, tratamento e disposição final de resíduos adequada às suas naturezas, conhecer tecnologias de tratamento e minimização dos impactos ambientais, desta forma ampliando a discussão com a sociedade sobre a gestão sustentável de resíduos sólidos.

O apoio e a disseminação do conhecimento prático da gestão alemã trouxeram ao município de Jundiaí uma visão inovadora e a inspiração em transformar o sistema atual em uma realidade eficiente e contínua que vai de encontro com as premissas da Política Nacional de Resíduos Sólidos e as tendências globais.

Portanto, a experiência vivenciada por toda a equipe os torna habilitados a estabelecer relações com outras áreas do conhecimento, apresentar uma visão sistêmica no que se refere à capacidade de organização do trabalho e alinhamento com as tendências relacionadas da área. Porém, o compartilhamento de experiência durante o projeto não se esgotou nos membros da equipe diretamente envolvida, mas abrangeu novos atores do mercado, ampliando os horizontes profissionais de todos os envolvidos direta ou indiretamente, quando do acesso à informação que delineia novas práticas da gestão de resíduos e principalmente firma um compromisso comum pela preservação ambiental e proteção climática em prol das próximas gerações.

Figuras 33 e 34 – Assinatura do termo de cooperação técnica Jundiaí–Lueneburg

Fonte: Projeto i-NoPa, 2014.

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Referências

BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 31 maio 2015.
FRICKE, Klaus; PEREIRA, Christiane; LEITE, Aguinaldo; BAGNATI, Marius. (Coords.). Gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos: transferência de experiência entre a Alemanha e o Brasil. Braunschweig: Technische Universität Braunschweig, 2015.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativas da população dos municípios brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2014. Diretoria de Pesquisas – DPE, Coordenação de População e Indicadores Sociais – COPIS, Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica – GEADD, 2014. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/pdf/analise_estimativas_2014.pdf>. Acesso em: 31 maio 2015.
JUNDIAÍ. Lei Municipal nº 2.140, de 13 de outubro de 1975. [Alterada pelas Leis nº 3.062/1987, nº 3.246/1988, nº 3.620/1990 e nº 7.225/2008]. Disponível em: <http://www.jundiai.sp.gov.br/servicos-publicos/wp-content/uploads/sites/18/2014/08/Lei-2.140-75.pdf>. Acesso em: 31 maio 2015.
MONTEIRO, José Henrique Penido et alManual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. [Coordenação técnica de Victor Zular Zveibil]. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. Disponível em: <http://www.resol.com.br/cartilha4/manual.pdf>. Acesso em: 31 maio 2015.
SÃO PAULO. Lei Municipal nº 13.478, de 30 de dezembro de 2002. Dispõe sobre a organização do Sistema de Limpeza Urbana do Município de São Paulo; cria e estrutura seu órgão regulador; autoriza o Poder Público a delegar a execução dos serviços públicos mediante concessão ou permissão; institui a Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares – TRSD, a Taxa de Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde – TRSS e a Taxa de Fiscalização dos Serviços de Limpeza Urbana – FISLURB; cria o Fundo Municipal de Limpeza Urbana – FMLU, e dá outras providências. Disponível em: <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/financas/legislacao/Lei-13478-2002.pdf>. Acesso em: 31 maio 2015.
SÃO PAULO. Lei Estadual nº 12.300, de 16 de março de 2006. Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e define princípios e diretrizes. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2006/lei-12300-16.03.2006.html>. Acesso em: 31 maio 2015.

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Registro Fotográfico


Reunião de abertura do projeto


Workshop Ciesp


Preparativos para abordagem em grandes geradores


Workshop Finep


Peneiramento dos resíduos


Visita técnica à Cooperlínia


Visita técnica ao CReED na Alemanha


Planta tratamento mecânico-biológico


Combustível derivado de resíduos (CDR)


Workshop Final


Capacitação técnica



1º Seminário técnico – Gestão sustentável de RSU





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Jundiaí, SP – Junho – 2015.
Publicado por:     i-NoPa - Cooperação acadêmica nas áreas de biogás e CSP
Apoio financeiro: DAAD
Impressão:         TU Braunschweig                           
Tiragem:             1.000 exemplares

Coordenação:    Prof. Dr. Klaus Fricke  – www.lwi.tu-bs.de
                        Prof. Dr. Tácio Mauro Pereira de Campos – www.puc-rio.br
                        Eng. Civil e Adv. Christiane Pereira  – www.creed-ev.de
                        Esp. Aguinaldo Leite – www.jundiai.sp.gov.br
Revisão textual: Luciane Pansolin
Diagramação:     Letras e Formas 
Revisão técnica: Christiane Pereira

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Uso autorizado desde que citada a fonte e informado via e-mail: gsrsu.br@gmail.com
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Como citar [ABNT NBR 6023:2002]:

FRICKE, Klaus; CAMPOS, Tácio Mauro Pereira de; PEREIRA, Christiane; LEITE, Aguinaldo. Capacitação e pesquisa fundamental, a fim de gerar metodologia de análise para o desenvolvimento de projeto para uma instalação de Tratamento Mecânico Biológico (TMB) com fermentação integrada na cidade de Jundiaí. Jundiaí, SP: i-NoPa – Programa Novas Parcerias Integradas, 2015. Disponível em: <http://gsrsu.blogspot.com.br/p/projeto-i-nopa.html>. Acesso em: .
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