Continuously Capacity Building: a fundamental instrument for a sustainable waste management
RESUMO
A gestão dos resíduos sólidos no Brasil enfrenta um grande desafio para atendimento das premissas avançadas propostas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Há de se buscar a formação de política pública que garanta a dissociação entre o desenvolvimento econômico e a geração de RSU, através da promoção do emprego dos recursos secundários como fonte de matéria-prima, também com a promoção de um consumo sustentável onde prevaleça um sistema de embalagens inteligente, o comprometimento dos fabricantes e fornecedores através do cumprimento da logística reversa, entre outras ferramentas que promovam uma gestão diferenciada e mais adequada dos RSU. Vivenciar a aplicação de novas tecnologias, principalmente em larga escala, demanda uma capacidade técnica avançada que pode ser desenvolvida através de cursos de capacitação que abordem conhecimentos na ordem do planejamento, execução, operação, monitoramento, otimização das tecnologias e aplicabilidade e escoamento dos subprodutos, permitindo formar um senso crítico e sensibilizar os agentes, seja público, seja privado, quanto às fragilidades e entraves relacionados com a aplicação das tecnologias.
Palavras-chave: Gestão. Resíduos. Formação profissional. Reciclagem. Política pública.
ABSTRACT
The solid waste management in Brazil faces a great challenge to assumptions proposals by Solid Waste National Policy. There is a need to search for the formation of public policy that ensures the decoupling between economic development and the generation of MSW, through the promotion of employment of secondary resources as a source of raw material, also with the promotion of a sustainable consumption where prevail a system of intelligent packaging, the involvement of manufacturers and suppliers through the fulfilment of reverse logistics, among other tools to promote a differentiated management and more suitable for MSW. Experience the application of new technologies, especially on a large scale, demand an advanced technique capacity that can be developed through training courses that address knowledge in order for planning, implementation, operation, monitoring, optimization of technologies and applicability and commercialization os secondary resources, to form a critical sense and raise awareness among the agents, either public or private, based on the weaknesses and barriers related to the implementation of these technologies.
Keywords: Management. Residues. Capacity building. Recycling. Public policy.
1 INTRODUÇÃO
A gestão dos resíduos sólidos no Brasil enfrenta um grande desafio para atendimento das premissas avançadas propostas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Esta afirmação surge a partir dos seguintes pressupostos:
- Entre 2002 e 2012, a produção dos resíduos sólidos urbanos (RSU) aumentou em 21%, com um crescimento populacional de 9,75%. Em outras palavras: Uma população em forte estágio de crescimento está produzindo um montante de resíduos em desproporcional incremento.
- Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), em 2002 apenas 40% dos RSU foram eliminados adequadamente, 60% dos resíduos foram depositados em lixões (ilegais). Desde o ano 2012, essa relação se inverteu, porém 40% dos resíduos ainda são depositados de forma inadequada.
- De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), os municípios são obrigados a destinar todos os seus resíduos para aterros com base impermeabilizada (aterro sanitário), ou, eliminar os resíduos no âmbito de programas de separação dos RSU. No ano 2012, apenas 58% dos 56,6 milhões de toneladas de resíduos coletados foram dispostos devidamente, e pouco menos de 60% dos municípios tiveram lançada uma iniciativa para a separação dos RSU. As taxas de reciclagem de vidro, papel, alumínio e plástico, com valores entre 21,7% (plásticos) e 47,0% (vidro) são baixos na comparação internacional. A separação dos recicláveis é realizada principalmente por intermédio do setor informal.
- A gestão de resíduos é afetada pela crescente urbanização e pela disparidade econômica e cultural encontrada entre as regiões geográficas.
- A consciência ambiental ainda pouco desenvolvida contribui para retardar novos avanços na gestão de resíduos.
Figura 1 – A gestão de resíduos e seus fatores de influência
Fonte: Elaborado pelo autor com dados de Brasil Econômico (08.01.2014, 27.01.2014).
Fonte: Elaborado pelo autor com dados de Brasil Econômico (08.01.2014, 27.01.2014).
Há de se buscar a formação de política pública que garanta a dissociação entre o desenvolvimento econômico e a geração de RSU, através da promoção do emprego dos recursos secundários como fonte de matéria-prima, também com a promoção de um consumo sustentável onde prevaleça um sistema de embalagens inteligente, o comprometimento dos fabricantes e fornecedores através do cumprimento da logística reversa, entre outras ferramentas que promovam uma gestão diferenciada e mais adequada dos RSU.
A Alemanha se empenhou avidamente para mudar o cenário da gestão tradicional dos resíduos, por reconhecer as implicações do caráter finito dos recursos naturais e analisar os impactos ambientais e as suas implicações quando do mero aterramento das frações in natura.
Figura 2 – Desligamento da produção de resíduos do desenvolvimento econômico (em %)
Para enfrentar os desafios relacionados com as reformas legais, esforços expressivos da administração pública em nível local e regional são necessários.
A PNRS determina, entre outras medidas, que:
- Os municípios estabeleçam planos de gestão dos RSU (até agora apenas realizado em escala limitada, onde segundo o Ministério de Meio Ambiente, em 2013, apenas 30% dos municípios haviam elaborado seus planos);
- O desenvolvimento de sistemas de coleta seletiva e de tratamento dos RSU seja promovido;
- Medidas para a conscientização ambiental da população sejam iniciadas;
- E, que sejam desenvolvidos sistemas de qualificação para todos os atores participantes no processo.
Figura 3 – Novas práticas de destinação de resíduos
Neste processo, os municípios têm a tarefa de:
- Aumentar consideravelmente a construção e operação de instalações para o tratamento de RSU;
- Adaptar a logística da coleta e do tratamento dos RSU às condições em transformação;
- Instalar e otimizar sistemas da coleta seletiva e de separação dos RSU;
- Adaptar as estruturas municipais a essas tarefas alteradas;
- Disponibilizar funcionários de formação adequada capacitados para a operação dos sistemas técnicos nas instalações de tratamento dos RSU;
- Incluir os catadores nos planos da gestão dos RSU;
- Despertar o apoio da população para participação ativa no sistema de gestão local dos RSU.
Somente a instalação de sistemas para o tratamento adequado dos RSU é uma tarefa enorme, como mostra o mapa na Figura 4. Além disso, também os funcionários devem estar preparados devidamente para essas tarefas, ou seja, não basta implementar, é necessário garantir acima de tudo a continuidade do processo.
Figura 4 – Distribuição geográfica da coleta seletiva
2 FORMAÇÃO PROFISSIONAL CONTINUADA
Por experiência própria, nem sempre boa, na construção de conceitos de gestão de RSU ambientalmente adequados, e desta forma preservando os recursos, sabemos que muitas vezes o foco do projeto está demasiadamente ancorado – e no início da fase de planejamento, quase, exclusivamente –, nos aspectos tecnológicos das plantas de tratamento. A qualificação da equipe interna e a implementação do conceito do tratamento dos RSU no dia a dia da comunidade são tratados apenas no segundo plano. Porém, sem cidadãos motivados e funcionários adequadamente qualificados não há como obter os resultados almejados – nem na quantidade nem na qualidade.
Um exemplo da importância de uma tomada de decisão fundada no processo da gestão sustentável de RSU pode ser identificado na definição do conceito de coleta e transporte:
Figura 5 – Gestão adequada da coleta e transporte
A coleta dos resíduos tem entrado como aspecto central na consciência cotidiana da população. O cidadão está confrontado diariamente com o sistema da coleta, colocando o lixo na rua ou ao caminho para o trabalho – em contraste ao tratamento dos resíduos a jusante.
A coleta dos resíduos representa o primeiro elo entre o gerador e o poder público, podendo ser uma ferramenta importante para a promoção da conscientização da comunidade, até porque o cidadão é confrontado diariamente com o sistema da coleta, dispondo seus resíduos nas ruas ou utilizando os pontos de entrega voluntária. Este cenário não se reitera quando pensamos na gestão pós-coleta onde o munícipe acaba não tendo acesso à informação sobre a gestão complementar ou não se interessa em buscar informações, entendendo que sua responsabilidade se esgotou quando sua sacola foi para a rua.
Escrevem Thürmer e Resch (2008) no seu artigo “Coleta de lixo em grandes cidades – desafio especial para empresas municipais de gestão de resíduos”: “A coleta e o tratamento de resíduos de todos os tipos estão entre os fatores considerados os mais importantes para a qualidade de vida e o grau de satisfação em uma cidade”.
Figura 6 – Balanço de reciclagem – Mais recicláveis do que rejeitos em 2010
A competência do tomador de decisão, portanto, é de imensa importância para todo o processo, para as opções de tratamento a jusante bem como, para o próprio tomador de decisão, pois ELE é o responsável para o sucesso ou fracasso do projeto como um todo. Portanto ELE deve possuir as respectivas competências para ponderação e decisão sobre os melhores componentes de sistemas. Só a consideração dos fatos aqui colocados pode resultar em uma decisão competente, transparente, inteligível e fundada.
A gestão de resíduos alemã é bem sucedida devido a esforços constantes de tentar conquistar a aprovação do consumidor. Em 2004, as taxas de reciclagem de todos os resíduos coletados superou pela primeira vez a quantidade dos rejeitos gerados.
Com isto, na Alemanha, os objetivos de uma gestão sustentável de resíduos e da coleta seletiva bem sucedida podem ser considerados como incorporados pela população. O caminho foi árduo mas em consequência serviu também para a promoção de novo ramo econômico, este bastante lucrativo e com alto potencial de criação de postos de trabalho – a economia circular ou de ciclo fechado.
3 GESTÃO DA QUALIFICAÇÃO
A Alemanha dispõe de um sistema educacional bastante estável. A formação não acadêmica ocorre em conjunto com as empresas e as escolas profissionalizantes. Este sistema dual representa a formação profissional clássica do profissional. O aprendiz adquire as bases teóricas da sua futura atuação na escola profissionalizante. Na empresa, ele aplica os conhecimentos adquiridos na prática. Essa forma de ensino profissionalizante geralmente leva de dois a três anos de duração, podendo ser completada através de diversas formas de formação continuada.
Quando arriscamos, nos anos 1980, o caminho partindo do movimento ambiental para a profissionalização e uma gestão ambiental sustentável, enfrentamos o problema da não existência de grade curricular voltada para o atendimento das novas demandas em decorrência das profissões nas áreas de meio ambiente e de resíduos. Mesmo no contexto acadêmico, a tecnologia e a gestão de resíduos estavam subordinadas aos departamentos de saneamento básico. Por consequência, vários novos campos de atuação profissional surgiram, possibilitando uma carreira profissional e perspectivas de renda na área da gestão de resíduos.
Entretanto, a gestão ambiental, de energia e de resíduos se desenvolveu como força motriz de empregos na Alemanha. Por exemplo, a área de energias renováveis hoje emprega mais pessoas que a indústria automotiva.
Procura-se, sobretudo, profissionais das áreas proteção do clima e energias renováveis bem como, da proteção ambiental técnica, inclusive das áreas resíduos, áreas contaminadas, água, esgoto, energia, proteção à imissões e ruídos. Cada vez mais empregos são oferecidos para profissionais da gestão ambiental, direito e política ambiental. (Berufe in Umwelt-, Natur- und Verbraucherschutz, Hrsg.: Ministerium für Klimaschutz, Umwelt, Landwirtschaft, Natur- und Verbraucherschutz des Landes Nordrhein-Westfalen, S. 11)
Precisava-se de currículos e cursos profissionalizantes para todas essas áreas de atuação, e em todos os níveis profissionais. Precisamos de pessoal para a gestão adequada de plantas, a construção e a operação, mas também para sua inserção administrativa e conceitual.
Não se pode imaginar a gestão de resíduos adequada e de alta qualidade, sem profissionais qualificados nas áreas de coleta, separação, operação, controle de processos (por exemplo, na compostagem) e na administração.
Decorrente disso, os seguintes perfis profissionais foram desenvolvidos:
- O profissional atuando na reciclagem precisa de conhecimentos e competências específicos diante do amplo campo de atuação nessa área, podendo ser adquiridos geralmente em cursos de curta duração e por treinamento no trabalho;
- Os assistentes técnicos químicos e profissionais de laboratório recebem orientações relevantes à condução adequada das respectivas análises;
- Construtoras, gerentes e operários das instalações devem possuir conhecimentos fundamentais sobre as respectivas tecnologias e especificações;
- A comercialização de matérias-primas recicladas deve ser efetuada por pessoal qualificado consciente da qualidade e dos valores dos bens, bem como, das vias de comercialização;
- A imagem da proteção do ambiente e da gestão de resíduos precisa ser valorizada pela sociedade. Para tanto se precisa de profissionais atuando em assessorias de comunicação, para apresentar adequadamente os objetivos da política ambiental e de economia em campanhas de propaganda;
- A administração pública, os órgãos competentes de licenciamento e de controle deve dispor de conhecimentos específicos sobre instalações de tratamento e conceitos complexos de gestão de resíduos, para que o sistema de coleta e tratamento adequado possa ser instalado.
Como consequência, surgem vários pontos de partida para a profissionalização dos campos de atuação na área da gestão de resíduos que continua se diversificando constantemente.
4 UNIVERSALIZAÇÃO DA QUALIFICAÇÃO
Na Alemanha, o grau de adesão dos geradores de resíduos a sistemas de coleta seletiva é de quase 100%. A introdução da coleta seletiva foi motivada pela intenção de reduzir os impactos ambientais por meio do aumento das taxas de reciclagem, bem como, atingir um maior grau de pureza das matérias-primas recicladas. Entre os efeitos secundários temos: melhor comercialização, resíduos como fonte de matérias-primas, a longo prazo as receitas extraordinárias ajudam a amortizar os elevados investimentos nas plantas.
Para se atingir estes ambiciosos objetivos foi investido fortemente no desenvolvimento técnico. Porém, inicialmente a qualificação da equipe interna foi negligenciada de forma imperdoável, resultando em produtos reciclados altamente contaminados e consequentemente, de difícil comercialização nos mercados.
Estes problemas muitas vezes não foram decorrentes de comprometimento da tecnologia de tratamento, mas sim do comportamento inadequado dos funcionários ou dos cidadãos que não conseguiram se identificar com a coleta seletiva dos resíduos sólidos. Até porque, a boa prática na gestão dos resíduos sólidos baseia-se em três elementos: tecnologia, funcionários e participação dos cidadãos; deixando bem claro que a boa intenção não resulta necessariamente em algo bem feito.
Estas experiências dolorosas oriundas da negligência nos fatores de qualificação dos funcionários e na informação do público resultaram em vários novos campos de atuação e profissões que embasam a gestão de resíduos.
5 GESTÃO AMBIENTAL E DE RESÍDUOS COMO PROMOTORA DE EMPREGOS
Na Alemanha, a economia ambiental se desenvolveu como uma verdadeira fábrica de empregos. A Agência Federal do Meio Ambiente escreveu, no seu balanço anual de 2013:
Os empregos na área de proteção ambiental apresentaram um crescimento contínuo nos últimos anos. No ano de 2008, pouco menos que dois milhões de pessoas trabalharam no ramo. Cerca de cada vigésimo posto de trabalho (4,8%) foi localizado nessa área.
Os setores econômicos da proteção do ambiente e do clima continuarão a crescer acima da média, e consequentemente, também a economia de ciclo fechado e a gestão de resíduos como componente importante da gestão ambiental. Um pré-requisito disso é uma formação profissional orientada à evolução contínua da demanda. Em relação às exigências da formação profissional, o Relatório de Gestão Ambiental do UBA, em 2012, chega à conclusão:
A gama de profissões e qualificações é tão ampla quanto a própria gestão ambiental. Observa-se a tendência em muitos setores econômicos, de enfatizar cada vez mais a proteção do ambiente, na formação profissional e formação continuada. Para profissões na área ambiental, muitas vezes são necessárias habilidades “macias” (“soft skills”), como as habilidades de se trabalhar interdisciplinarmente e em time, bem como, estar aberto para novos assuntos. (EDLER; BLAZEJCZAK, 2012)
Figura 7 – Levantamento de profissionais nas áreas ambientais
Este desenvolvimento repercute em toda a Comunidade Europeia como consequência dos elevados custos de investimento e a expectativa da boa comercialização das matérias-primas recicladas.
Precisa-se de investimentos abrangentes para construir instalações adequadas para o tratamento dos resíduos. A gestão eficiente dos resíduos também oferece novas possibilidades “não apenas na geração de empregos, mas também com o aumento da renda”, enquanto ao mesmo tempo, a sustentabilidade ambiental é promovida através de reutilização, reciclagem e recuperação energética. A indústria de reciclagem tem o potencial de gerar cerca de um meio milhão de postos de trabalho. (Informação para a imprensa do parlamento Europeu de 01/02/2012, Número de referência: 20120201 IPR36951)
Este depoimento é baseado na resolução do parlamento da Comunidade Europeia do ano 2010, que demanda, entre outras:
[...] que os estados membros orientem seus sistemas da formação profissional para abrirem a chance de novos postos de trabalho, ecológicos e sustentáveis. (Resolução do Parlamento da Comunidade Europeia P7_TA 2010/0299: Exploração do potencial de emprego de uma nova gestão sustentável)
Com isso, refere-se explicitamente ao potencial de emprego de uma gestão de resíduos ambientalmente adequada e anota-se que o efeito spill-over desejado só pode ser realizado baseado em conceitos de formação orientados no desenvolvimento de competências.
A chance para o desenvolvimento de novos empregos na gestão ambiental e de resíduos é também reconhecida em nível internacional. Sendo assim, a recomendação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) para a economia brasileira é: “aumentar as oportunidades da educação técnica e treinamento no trabalho. Desenvolver oportunidades em programas de infraestrutura relacionados com o ambiente” (OECD Economic Survey Brazil, 2011, S. 149).
Nossas experiências mostraram que, para a gestão sustentável de resíduos, precisa-se de todo um pacote de conhecimentos específicos.
Nas áreas de operação e técnicas, por exemplo, são exigidos, além de conhecimentos sobre a composição e fluxos de resíduos e uma visão geral da agregação de valor nas matérias-primas recicladas, também conhecimentos específicos conforme cada planta. Até porque a operação de uma planta de compostagem municipal tem outras demandas de capacitação do que a operação de uma planta de triagem de resíduos
Nos setores de planejamento e de gestão operacional precisa-se de amplos conhecimentos técnicos. Por outro lado, conhecimentos detalhados, porém mais ainda, conhecimentos gerais, são os requisitos das áreas de representação política, de sociedade e do setor de consultoria.
Mas, quais as qualificações são necessárias para implementar os primeiros passos? Em seguida, a ampla variação desses requisitos de qualificação será demonstrada com dois exemplos.
5.1 Consultor de Gestão de Resíduos
A capacitação profissional para consultores de gestão de resíduos em maneira de formação continuada foi conduzida pela primeira vez em meados dos anos 1980, na Alemanha, como consequência da redução expressiva da quantidade e qualidade dos materiais reciclados. A introdução de novos sistemas da coleta seletiva não foi aceita pela população que não conseguiu se familiarizar com a nova gestão de resíduos.
No estado federal de Hesse, foi lançado o primeiro instrumento legal que obrigava os municípios a assumirem sua competência de gestão dos resíduos e a orientar os produtores de resíduos, abrindo espaço para consultoria especializada.
Posteriormente, a consultoria da gestão dos resíduos foi instalada por lei e está estabelecida em todo o território da Alemanha.
As tarefas da consultoria de gestão dos resíduos têm ganhado mais competências desde a sua introdução, além de prestar consultoria ao setor privado e comercial. Essas novas competências se encontram na área da consultoria em políticas públicas e na expertise de planejamento.
A consultoria de gestão dos resíduos e publicidade são componentes inseparáveis de uma economia de ciclo fechado sustentável conforme a hierarquia “evitar – reduzir – aproveitar – eliminar”.
O objetivo de evitar a produção de resíduos em nível municipal, pelo cidadão e pelas empresas, não pode ser alcançado sem uma consultoria intensiva e intervenções publicitárias. Onde antes os assuntos ligados à gestão de resíduos foram de natureza técnica, organizatória e contável, agora é importante que prevaleçam as tarefas relacionadas ao planejamento, a comunicação e a manutenção do contato estreito com a sociedade.
Segundo a Agência Federal de Trabalho Alemã, o perfil do consultor de gestão de resíduos é o seguinte:
Os consultores/as aconselham os cidadãos e empresas sobre prevenção de lixo e aproveitamento e eliminação de resíduos. Por meio de jornadas de informação e palestras os consultores tratam de questões como a gestão de resíduos, como a compostagem, separação do lixo e reutilização, bem como, produtos menos nocivos, ou a eliminação de produtos contendo amianto. Na sua função como assessoria de comunicação, os consultores/as de gestão de resíduos se direcionam aos diversos grupos alvo como escolas, participantes de cursos na formação de adultos ou a funcionários de uma empresa.
Os consultores/as examinam e avaliam as propostas e soluções para o tratamento de resíduos sobre a ótica ambiental e desenvolvem conceitos de tratamento de resíduos, levando em consideração dados básicos sobre resíduos domésticos, resíduos do comércio e resíduos perigosos e elaboram orientações para um comportamento ambientalmente adequado dos consumidores.
Os consultores/as também são membros em conselhos relacionados à área, visitam instalações de tratamento como plantas de incineração de resíduos, mantêm sítios na internet sobre a gestão de resíduos, ou elaboram balanços de resíduos e outras estatísticas. Como funcionários da administração pública, os consultores/as também cuidam do cadastro dos produtores de resíduos comerciais.
Para poder preencher essas exigências adequadamente, os candidatos a este cargo devem possuir as seguintes competências em relação aos resíduos:
Quadro 1 – Competências da consultoria
Competências essenciais | Outras competências importantes |
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Fonte: Elaborado pelo autor (2014).
5.2 Técnico de Economia em Ciclo Fechado e da Gestão de Resíduos
A formação é ministrada nas áreas de logística, coleta, vendas, tratamento, aproveitamento e eliminação de resíduos.
5.2.1 Áreas de trabalho
- Empresas de coleta de resíduos;
- Plantas de aproveitamento e eliminação, por exemplo, para a reciclagem de vidro e de papel;
- Aterros;
- Plantas de compostagem;
- Plantas de tratamento mecânico-biológico.
5.2.2 Habilidades profissionais
Os técnicos de economia de ciclo fechado e de gestão de resíduos conduzem seus trabalhos de forma autônoma baseado em documentos técnicos e regras bem como, nas leis específicas. Eles buscam informações, planejam e coordenam medidas para o controle de qualidade, segurança de trabalho, e para a proteção da saúde e do ambiente na área.
5.2.3 Atuação profissional
Os técnicos de economia de ciclo fechado e de gestão de resíduos (BIBB, 2002):
- Recebem os resíduos;
- Identificam, analisam e declaram os resíduos;
- Direcionam os resíduos para os diversos sistemas de tratamento;
- Organizam acondicionadores e veículos obedecendo aos regulamentos da segurança de trabalho;
- Coordenam e controlam procedimentos técnicos;
- Operam, supervisionam, inspecionam, fazem manutenção e conduzem consertos nas instalações de tratamento, de aproveitamento e de eliminação de resíduos;
- Reconhecem avarias mecânicas e reagem adequadamente;
- Conduzem a documentação e avaliação de processos de trabalho;
- Atuam orientando o cliente e aplicam as tecnologias de informação e comunicação adequadas;
- Atuam conscientes dos custos, do ambiente e da higiene;
- Aplicam as normas legais, regras técnicas e normas da segurança no trabalho, no âmbito da gestão de qualidade.
O CReED possui grande experiência também neste segmento da capacitação profissional.
Conhecimentos específicos, por exemplo, sobre a gestão de resíduos em hospitais na Europa, têm sido transmitidos em diversos projetos transnacionais.
6 CONCLUSÕES
As práticas de tratamento tomaram força no mercado global a partir do entendimento de que os aterros tem um potencial de influência nas emissões de gases de efeito estufa elevado, as práticas de engenharia não conseguem afastar o potencial de contaminação a médio e longo prazo, as ações de manutenção após o encerramento são onerosas, os recursos naturais estão se tornando cada vez mais valorizados, portanto, o mercado de recursos secundários tem ganhado força devido a este fato, o valor dos recursos energéticos estão cada vez mais caros, a demanda alimentícia está acentuada para o atendimento de uma população que cresce de forma desenfreada e a sociedade tem se tornado mais sensível às ações que determinam a proteção e preservação ambiental.
Vivenciar a aplicação de novas tecnologias, principalmente em larga escala, demanda uma capacidade técnica avançada que pode ser desenvolvida através de cursos de capacitação que abordem conhecimentos na ordem do planejamento, execução, operação, monitoramento, otimização das tecnologias e aplicabilidade e escoamento dos subprodutos, permitindo formar um senso crítico e sensibilizar os agentes, seja público, seja privado, quanto às fragilidades e entraves relacionados com a aplicação das tecnologias.
Considerando que será a própria comunidade que sofrerá as consequências de uma operação exitosa ou não, devendo o poder público prover cursos de capacitação e de aculturamento com a nova realidade da gestão sustentável dos resíduos. A administração pública deve entender este novo sistema como condição única dentro da realidade brasileira e ferramenta concreta de educação ambiental. O comprometimento da população irá garantir melhores níveis de segregação a partir da coleta seletiva e ainda o convívio através de visitas monitoradas à planta de tratamento ratificará os conceitos desenvolvidos em intervenções de educação ambiental, afastando a teoria e aproximando a comunidade para a realidade desses sistemas, suas complexidades e vantagens quando da transformação dos resíduos em recursos secundários. Ações midiáticas são justificadas para sensibilização de um número maior de membros da sociedade.
Portanto, avaliando o pioneirismo do programa e o compromisso com o bem comum, temos que as novas plantas de tratamento devem ser disponibilizadas para linhas de pesquisa e promoção de programas acadêmicos de especialização, contribuindo para a formação de massa crítica e capacitada, apta a multiplicar os resultados e garantir a continuidade dos processos implementados.
REFERÊNCIAS
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INFORMAÇÃO para a Imprensa do Parlamento Europeu de 01/02/2012, Número de referência: 20120201 IPR36951: Abfall verwerten, um Investoren anzulocken und Arbeitsplätze zu schaffen. Disponível em: <http://www.europarl.europa.eu/news/de/news-room/content/20120201IPR36951/html/Abfall-verwerten-um-Investoren-anzulocken-und-Arbeitspl%C3%A4tze-zu-schaffen>. Acesso em: 12 jan. 2015.
EDLER, Dietmar; BLAZEJCZAK, Jürgen. Beschäftigungswirkungen des Umweltschutzes in Deutschland im Jahr 2008, veröffentlicht in der Reihe Umwelt, Innovation, Beschäftigung 01/2012. (Hrsg. Umweltbundesamt), Dessau-Roßlau. Disponível em: <http://www.umweltbundesamt.de/uba-info-medien/4308.html>. Acesso em: 12 jan. 2015.
OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development. OECD Economic Surveys: Brazil 2011. OECD Publishing, 2011. DOI: 10.1787/eco_surveys-bra-2011-en. Acesso em: 12 jan. 2015.
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Uso autorizado desde que citada a fonte e informado via e-mail: gsrsu.br@gmail.com
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HOFFMANN, Lutz. Formação Profissional e Continuada: instrumento fundamental para uma gestão sustentável dos resíduos. In: FRICKE, Klaus; PEREIRA, Christiane; LEITE, Aguinaldo; BAGNATI, Marius. (Coords.). Gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos: transferência de experiência entre a Alemanha e o Brasil. Braunschweig: Technische Universität Braunschweig, 2015. Disponível em: <https://goo.gl/BE246I>. Acesso em: .
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