15 de fevereiro de 2017

Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos Urbanos: desafios e oportunidades



Se foi possível iniciar a coleta seletiva dos resíduos em Florianópolis em 1986 e constatamos que passados vinte e oito anos, somente uma fração correspondente a 6,5% é recuperado dos resíduos que produzimos, a pergunta óbvia é: onde é que erramos? Ela se parece muito com a indagação que se fazem muitos pais, ao verem seus filhos, já crescidos, trilhando um caminho condenado pela sociedade. A comparação, infelizmente, é pertinente e a resposta para ambos os casos não é assim tão simples.

Se levarmos em conta que as experiências brasileiras em coleta seletiva são contemporâneas das implantadas na Alemanha (1983) e de que naquele país está prevista a universalização da coleta de orgânicos para 2015, enquanto no Brasil, mais de dois mil e novecentos municípios ainda possuem lixões, o questionamento toma aspectos de constrangimento nacional.

Alguns fatores concorreram para esta disparidade. Em primeiro lugar no Brasil a alternância de poder, principalmente em nível municipal, tem sido acompanhada do abandono de projetos, denotando o personalismo na administração pública, a falta de políticas públicas perenes e o desperdício de recursos públicos. Por outro lado, nossa legislação relativa aos resíduos adormeceu por vinte anos nos escaninhos da burocracia do Congresso, enquanto, na Alemanha, o meio acadêmico e o empresarial se uniram para buscar soluções para este grave problema ambiental. Estes dois fatores, agravados pela concentração de recursos em nível Federal, têm sido um grande entrave para as administrações municipais.

O resultado é que hoje temos uma defasagem imensa a ser recuperada. A boa notícia, é que podemos encurtar o caminho, aproveitando o que foi aprendido pela sociedade alemã nestas últimas décadas e evitando cometer erros, que são inerentes às mudanças.

Os Congressos realizados em Jundiaí-SP e Florianópolis-SC, as visitas técnicas às plantas de processamento da Alemanha e o apoio que temos recebido da Universidade Técnica de Braunschweig – TUBS e do CReED – Center for Research, Education and Demonstration in Waste Management, assim como as iniciativas da Câmara de Comércio Brasil – Alemanha e da GIZ – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, aproximando empresários e agentes governamentais brasileiros e alemães, têm contribuído para a troca de informações e para o encurtamento da distância entre a situação que temos e o que esperamos em relação ao tratamento dos resíduos sólidos no Brasil.

O cenário atual é composto pelas imposições legais da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que nos colocaram prazos curtos e metas elevadas de desvio de resíduos dos aterros sanitários. Sabemos, entretanto, que a situação financeira das Prefeituras no Brasil é, por vezes, lastimável, e a dificuldade que encontram na busca de recursos junto aos órgãos do Governo Federal. Como técnicos e administradores públicos nos entusiasmamos com o refinamento alcançado pela indústria alemã nas soluções para o destino adequado dos resíduos sólidos urbanos, e desejamos poder implantá-las em nossas cidades. Porém, se às soluções tecnológicas são inerentes os custos elevados, e a capacidade de investimento das Prefeituras são reduzidas, o que fazer? Algumas Prefeituras têm optado pela celebração de PPPs – Parcerias Público Privadas, como forma de atender às demandas existentes, beneficiando a sociedade em diferentes áreas de sua competência.

Este livro traz uma coletânea do conhecimento que foi dividido durante a realização do 1º e do 2º Congresso Técnico Brasil – Alemanha sobre Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos Urbanos, realizados, respectivamente, nas cidades de Jundiaí-SP e Florianópolis-SC; e, é fruto da dedicação e do entusiasmo do Prof. Dr. Eng. Klaus Fricke. É, portanto, um grande presente que deve embasar nossas reflexões e servirá de referência para a tomada de decisão, já que em um futuro próximo deveremos ter soluções para a reciclagem e compostagem dos resíduos orgânicos, com possibilidades de geração de biogás e CDR – Combustíveis Derivados de Resíduos, principalmente pelo interesse manifesto da indústria cimenteira nacional, que vê nos resíduos sólidos urbanos uma alternativa ambiental e economicamente viável aos combustíveis fósseis.


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Uso autorizado desde que citada a fonte e informado via e-mail: gsrsu.br@gmail.com
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Como citar [ABNT NBR 6023:2002]:

BAGNATI, Antonio Marius Zuccarelli. Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos Urbanos: desafios e oportunidades. In: FRICKE, Klaus; PEREIRA, Christiane; LEITE, Aguinaldo; BAGNATI, Marius. (Coords.). Gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos: transferência de experiência entre a Alemanha e o Brasil. Braunschweig: Technische Universität Braunschweig, 2015. Disponível em: <https://goo.gl/BE246I>. Acesso em: .
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